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Em 4 anos, mais de 14 mil servidores da educação foram afastados por problemas de saúde mental no DF, mostra reportagem

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Em quatro anos, mais de 14 mil servidores da educação precisaram ser afastados das atividades por problemas de saúde mental, no Distrito Federal. Segundo a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Administração (Seplad), de 2019 a 2022, foram emitidas 14.154 licenças por “transtornos mentais e comportamentais”. Em 2023, de janeiro a abril, foram quase 2 mil afastamentos.

“As condições de trabalho pesam para nosso adoecimento mental. Lidar com salas de aula lotadas, alunos que não nos respeitam, familiares ausentes e que não cooperam com nosso trabalho. Enquanto isso, somos cobrados por melhores resultados em avaliações em série, tais como Prova Brasil e Enem”, desabafa Expedito Carneiro, de 33 anos, professor de Língua Portuguesa da rede pública do DF.

Neste Dia dos Professores (15), Expedito diz que a ideia de que professores trabalham por amor e vocação também faz com que muitos desanimem quando enxergam os problemas da profissão.

“Ouço vários colegas que fazem acompanhamento psicólogo e psiquiátrico e tomam medicação para ansiedade, depressão, síndrome do pânico”, diz.

Procurada pelo g1, a Secretaria de Educação do DF disse que “adota algumas ferramentas para promover o bem-estar dos seus profissionais e prima por uma gestão de pessoas humanizada”. Dentre elas, cita programas de acolhimento psicológico, acolhimento em situação de crise e gerenciamento de estresse.

‘Os professores precisam ser escutados’

A professora de psicologia Lêda de Freitas, da Universidade Católica de Brasília (UCB), pesquisa sofrimento e adoecimento no trabalho. Ela explica que a falta de valorização dos professores por parte do governo começa com o fato de que as demandas da categoria sequer são consideradas.

“Nós temos uma burocracia instalada no Estado brasileiro que não sabe o que é uma sala de aula e fica lá pensando política pública para os professores. Os professores precisam ser escutados, eles precisam ser os principais dentro da lógica da educação. E não é isso o que a gente vê na prática”, afirma Lêda.

Segundo ela, as principais causas do adoecimento dos professores envolvem :

  • Intensificação das exigências da sociedade contemporânea, sem que sejam proporcionadas melhorias nas condições de trabalho;
  • Remuneração incompatível com o exercício das funções;
  • Salas lotadas e indisciplina de parte dos alunos;
  • Extensa jornada de trabalho, que extrapola a carga horária contratada;
  • Falta de reconhecimento;
  • Falta de apoio e de políticas públicas.

“Querem mais educação, querem mais escolarização, mas não cuidam dos professores. Não há reconhecimento do Estado e de toda a sociedade sobre a importância dessa profissão para o país”, diz Lêda.

Atividade ‘de risco’

O professor Wanderley Codo, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de Brasília (UnB), diz que lecionar é uma “atividade de risco” em termos de saúde mental. Isso porque, além dos fatores ambientais, que já são desfavoráveis, os professores ainda têm que lidar com o fator social de cada aluno de suas turmas.

“No trabalho de professor, ele é obrigado a envolver o afeto. É um trabalho, necessariamente, percorrido pela afetividade. Você não pode educar se você não desenvolve um vínculo afetivo com o seu aluno, você precisa ter algum tipo de relação”, diz o pesquisador.

Segundo ele, se os professores tivessem condições adequadas de trabalho, eles teriam mais recursos para lidar com as questões que ultrapassam o ato de ensinar – e que são inerentes à profissão.

“O aluno pode chegar na aula machucado porque o pai bateu nele, por exemplo. São situações em que o professor precisa entrar, conversar, entender”, diz Wanderley Codo.

Com informações do G1-DF

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