Ir para o conteúdo
Irregularidade

Auditoria identifica problemas estruturais em cemitérios do DF

Compartilhar
29/05/2017. Crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press. Brasil. Brasília - DF. Preços altos e problemas no Cemitério de Taguatinga. Na foto, Maria das Graças e Thais Costa.
Compartilhar

 

Depredação de túmulos, mato alto, insegurança, falta de cuidado nas áreas destinadas a enterros sociais, más condições e cobrança abusiva de juros nos valores dos jazigos. Esse é o retrato dos cemitérios do Distrito Federal, segundo uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral do DF (CGDF). O trabalho de inspeção, realizado nas seis unidades administradas pela empresa Campo da Esperança Serviços Ltda. na capital — Asa Sul, Brazlândia, Taguatinga, Gama, Sobradinho e Planaltina — também identificou falhas na concessão do serviço e omissão do Governo do Distrito Federal (GDF) em relação à fiscalização.

As vistorias ocorreram entre 8 e 28 de março. Os problemas nas unidades também haviam sido levantados em 2009 e em 2011 em relatórios do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF). Os serviços de limpeza e de conservação de túmulos estão entre os alvos das críticas dos técnicos. No caso das alas destinadas aos sepultamentos sociais, relataram-se “péssimas condições”. Enquanto que, nos demais setores, os túmulos são construídos com dois ou três jazigos verticais, lado a lado, com grama esmeralda e adequada identificação dos sepultados, mediante placas de mármore e plaquetas de metal, nos locais de sepultamento gratuitas, cada cova recebe até três corpos na vertical, diretamente na terra, sem qualquer alvenaria lateral. Além disso, a identificação das sepulturas é feita em uma peça de concreto com gravação à base de tinta de “baixa durabilidade”, conforme atestado.

Além disso, há reservatórios de água parada em Sobradinho e em Planaltina, e nenhuma das seis unidades oferece estacionamento com vagas suficientes para todos os visitantes. No cemitério de Planaltina, os auditores da CGDF constataram que, por causa da dificuldade de parar o carro, a principal via de acesso da cidade fica parcialmente bloqueada.

Depósitos de ossos

A Campo da Esperança também descumpriu, segundo o relatório da CGDF, a construção de depósitos de ossos. Há, hoje, 576, mas o previsto originalmente no contrato, firmado em fevereiro de 2002, era de 2.250. Os locais destinados aos restos mortais de exumação de indigentes também estão malcuidados. O único ocupado, no Cemitério de Taguatinga, estava tomado por insetos, “não cumprindo o mínimo aceitável quanto à higiene e conservação”. Nas outras unidades, os auditores identificaram mato alto e má conservação dos muros, além de ausência de segurança.

Taguatinga

Também em Taguatinga, a auditoria identificou falta de espaço para a construção de jazigos, assim como no Gama. Segundo a inspeção, a região Oeste do DF, que abrange Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Águas Claras e Vicente Pires, correspondia, em 2015, a 39% da população total da capital federal. “Com o aumento demográfico da população, verifica-se a possibilidade de colapso do sistema de sepultamentos no cemitério São Francisco de Assis, em Taguatinga”, destacam os auditores. “Ressalta-se que a situação pode resultar em aumento da demanda dos cemitérios de cidades mais próximas à região oeste do Distrito Federal, como Gama e Brazlândia.”

Sonegação

O relatório ainda revelou cobranças abusivas de juros no parcelamento de venda de jazigos, ultrapassando 47% ao ano, no caso de financiamento em 40 parcelas. Porcentagem muito superior, de acordo com os técnicos da CGDF, com o IPCA e a taxa Selic, que, em 2016, foram de 6,29% e 12,25%, respectivamente, ao ano. Segundo o levantamento, a tabela não fica exposta à população. “Com esse procedimento, a Concessionária afronta direitos do usuário e desmerece o conceito de serviço público ao impor juros excessivos em um momento de fragilidade do usuário em razão da perda familiar e/ou de ente querido”, avaliou a auditoria.

Foram identificados, ainda, atrasos constantes no pagamento de taxas de água e esgoto. Segundo o levantamento da CGDF, é possível que haja sonegação de receita por parte da Campo da Esperança.

Defesa

Em nota, a empresa informou que foi notificada sobre o relatório em 24 de maio e tem 30 dias para se defender. Destacou que o conteúdo está em análise pelas áreas técnica e jurídica da concessionária, “que se pronunciará sobre cada item no prazo estipulado”. No entanto, acrescentou que “uma primeira leitura do documento revela informações equivocadas e desatualizadas, mas a empresa só se manifestará quando concluir o exame aprofundado”. De acordo com a concessionária, caso seja constatada alguma irregularidade contratual, “a Campo da Esperança Serviços Ltda. trabalhará para que todas elas sejam sanadas”.

Em nota, a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) ressaltou que diversos pontos indicados no relatório tinham sido notificados pelo órgão à concessionária. A pasta informou que, após um mês para a empresa se manifestar e cumprir as exigências contratuais, haverá uma nova fiscalização. Caso as irregularidades não tenham sido sanadas, a Campo da Esperança poderá sofrer sanções previstas em contrato, como multa, por exemplo. O caso também está na Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep), que analisa o conteúdo das informações.

Por fim, o órgão esclareceu que enviou ao governador Rodrigo Rollemberg um projeto de lei que permitirá a implantação de cemitérios privados no DF, como ocorre em outras cidades brasileiras. Isso porque, segundo a Sejus, a concessão com a Campo da Esperança tem prazo de 30 anos para se encerrar e, após esse período, retorna à administração ao governo. O GDF deve encaminhar a proposta à Câmara Legislativa nos próximos 30 dias, segundo a Sejus.

 

Quanto custa 

Confira o valor dos jazigos no DF

 

R$ 638,50

Preço do jazigo de uma gaveta

 

R$ 1.824,07

Valor de uma gaveta com cessão perpétua

 

R$ 1.237,17

Preço de duas gavetas

 

R$ 2.410,96

Valor de duas gavetas com cessão perpétua

 

R$ 1.790,15

Preço de três gavetas

 

 R$ 2.975,72

Valor de três gavetas com cessão perpétua

 

Lista de problemas 

» Reservatório de água no Cemitério de Sobradinho, identificado em visita realizada em 8 de março, que propicia o desenvolvimento de larvas de insetos

» Ausência de vagas nos estacionamentos e ausência de asfalto em algumas vias internas

» Falta de cuidado nas áreas separadas para enterros sociais, com péssimas condições de manutenção

» Descumprimento na construção de ossuários individuais para acolher caixa padrão de ossadas

» Más condições nos columbários gerais destinados a abrigar os despojos das exumações dos indigentes

» Mato alto nos cemitérios, lixo espalhado e má conservação dos muros. Além disso, o documento aponta para segurança inadequada, com registro de furtos e vandalismo, além de depredação dos túmulos

» Falta de cumprimento em relação à criação de um crematório. Apesar de não ter sido criado, há, ainda, publicidade da prestação dos serviços em Valparaíso (GO) e nos cemitérios de Planaltina e Sobradinho

» Cobrança abusiva de juros, muito acima da inflação oficial do IPCA e da taxa Selic para parcelamento dos serviços de venda de jazigos

» Esgotamento de novas áreas para construção de jazigos nos cemitérios de Taguatinga e do Gama (os mais urgentes);

» Débitos da concessionária Campo da Esperança relativos à Taxa de Funcionamento de Estabelecimento (TFE), referente a 2011 e a 2015, no valor de R$ 28.772,82, e ao IPVA, de 2016, em R$ 513,94

» Atrasos constantes no pagamento de taxas de água e esgoto

 

Com informações do Correio Braziliense.

 

 

Compartilhar

Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Artigos Relacionados
Irregularidade

MPF vai apurar se houve irregularidades na liberação de verbas federais da educação

Equipes vão verificar se ‘fluxo de liberação de verbas’ do FNDE atendeu...

Irregularidade

Paulo Octávio é condenado por improbidade e deve pagar R$ 11,6 milhões

A 6ª Vara da Fazenda Pública do DF condenou o ex-vice-governador Paulo...

Irregularidade

Justiça do DF condena promotora que abriu investigação sobre acordo envolvendo empresa de Paulo Octávio

Juiz entendeu que Marilda dos Reis Fontineli cometeu litigância de má-fé; ela...